Relatório Regional do MENA
O Oriente Médio e o Norte da África (MENA, na sigla em inglês) é o berço do cristianismo, onde tudo começou, e a partir da Palestina, em especial, o evangelho se espalhou por toda a região do MENA e por toda a terra dali em diante.
Os discípulos e os primeiros cristãos seguiram a comissão de Jesus em Atos 1:8, quando ele disse “e sereis minhas testemunhas tanto em Judeia e Samaria e até os confins da terra”. O livro de Atos reflete a realidade da expansão do evangelho que alcançou os confins do mundo conhecido no período do primeiro século.
A criação de comunidades cristãs na região do MENA é diversa e rica em história, o que reflete séculos de coexistência e interação com várias culturas e religiões. Enquanto as específicas demografias variam de país para país, segue aqui um panorama geral da presença cristã:
Cristãos Armenianos: concentrados em países como Armênia, Irã, Líbano, Síria e Turquia, os cristãos armenianos possuem uma rica herança cultural e tem enfrentado desafios históricos, incluindo genocídio e deslocamento.
Cristãos Coptas: concentrados principalmente no Egito, os cristãos coptas são uma das comunidades cristãs mais antigas no mundo, cujas raízes podem ser traçadas desde os primeiros dias do cristianismo. Eles tem identidade religiosa e cultural únicas dentro do Egito.
Cristãos Caldeus, Assírios e Siríacos: estas comunidades são encontradas principalmente no Iraque e na Síria, com populações menores em outros países da região. Elas tem enfrentado significativos desafios devido aos conflitos e as perseguições nos últimos anos.
Cristãos Ortodoxos Orientais: além da Grécia e de Chipre, os cristãos ortodoxos orientais são encontrados em países como Síria, Líbano e Jordânia, onde eles lançaram profundas raízes históricas.
Católicos Gregos e Ortodoxos Gregos: essas comunidades tem presença em vários países na região do MENA, incluindo Síria, Jordânia, Palestina e Líbano.
Cristãos Maronitas: encontrados predominantemente no Líbano, os cristãos maronitas tem significativa presença na sociedade libanesa hoje e tiveram um papel historicamente fundamental na cultura e na política do país.
Cristãos Protestantes e Evangélicos: nas últimas décadas houve um crescimento nas comunidades cristãs protestantes e evangélicas de vários países na região do MENA. Possivelmente chegando a mais de meio milhão de pessoas no Egito, eles formam influentes comunidades também no Líbano e na Jordânia. Em alguns países como Iraque, no entanto, eles talvez sejam uma população de apenas algumas centenas.
Existe uma quantidade de cristãos anglicanos na região, assim, como comunidades cristãs expatriadas em muitos países do MENA, especialmente nos estados do Golfo.
A perspectiva para todas as comunidades cristãs, no entanto, é negativa. Em seu livro The Vanishing: The Twilight of Christianity in the Middle East, a autora Janine Di Giovanni fornece provas contundentes. Abaixo seguem algumas citações reveladoras:
- Pela primeira vez, em cerca de dois milênios, o Iraque passará a ser um país sem cristãos.
- A fé cristã e seus seguidores foram parte integral do Oriente Médio desde os primórdios da religião. Agora, eles encaram sua extinção em muitas de suas terras natais milenares.
- As igrejas ancestrais do Oriente Médio enfrentam uma ameaça mortal. No Iraque, na Síria, no Egito e na Palestina, o fervor original do cristianismo está se apagando.
- O êxodo de cristãos da região não tem precedentes nos tempos modernos, causando temores de que o cristianismo está desaparecendo em suas próprias terras de origem.
Em suma, os cristãos enfrentam violência, perseguição e discriminação, o que levou milhões deles a deixaram suas casas. Comunidades centenárias foram dispersas, causando a perda da rica trama da diversidade religiosa que uma vez definiu a região.
Apesar de muitos dos fatores que causaram este fenômeno estarem presentes há décadas, algumas incríveis mudanças na demografia social e econômica aconteceram desde o último Congresso de Lausanne em 2010. E, à medida que nos aproximamos da metade do século XXI, as transformações globais e as tensões internas continuarão a reformular de maneira fundamental a região do MENA, o que exigirá de nós estratégias adaptativas.
O que há de mais crucial para as comunidades cristãs da região do MENA são os complexos fatores que constantemente envolvem migração, mudanças sóciopolíticas e dinâmicas religiosas. Mas apesar de todos os desafios e dificuldades, os crentes da região continuam a contribuir para a construção do tecido social, religioso e cultural de seus respectivos países.
Entre o Agora e 2050: Tendências que Definem a Grande Comissão
Islã e Política Radical
O crescimento do Islã, dos movimentos islãmicos políticos e dos sistemas de governo que tem o Islã como ponto de referência é notável e inédito nos últimos 20 anos. Afetando muitos dos países nesta região, este fato mostrou-se mais evidente no Egito, na Tunísia e no Sudão, da mesma forma que o regime na Algéria fechou dúzias de igrejas. Apesar de os jovens serem mais ouvidos recentemente e os Millennials terem sido a força por trás da Primavera Árabe, esta também é a idade de recrutamento para os partidos islâmicos e os movimentos jihadistas que intentam mudar a região em seu cerne.
No entanto, o crescimento do ateísmo tem se mostrado um avanço à altura. Anteriormente sempre às escondidas, quando grupos como a Irmandade Muçulmana ganharam autoridade, muitos ex-muçulmanos passaram a negar publicamente o Islã ao anunciarem seu ateísmo. As estatísticas tem demonstrado uma surpreendente onda na Arábia Saudita,1 enquanto, apenas no Egito, já devem existir aproximadamente 4 milhões de ateus.2
Empoderamento Jovem
Se as tendências atuais permanecerem, até 2050 mais de 300 milhões de jovens adentrarão o já retesado mercado de trabalho do MENA, resultando em significativo desemprego. Esta situação, combinada a desafios como mudanças climáticas e escassez de água, forçará os jovens a buscarem maior participação política e oportunidades de empoderamento. Tais demandas por reformas políticas e inclusividade, ainda que possam potencialmente trazer bons avanços, podem causar desconforto e instabilidade na região.
Pessoas em movimento
A população global deve atingir a marca de 9,7 bilhões até 2050, com notável crescimento nas demografias urbanas e de envelhecimento. Cerca de 65% da população mundial residirá em áreas urbanas, adicionando 2,5 bilhões de pessoas às cidades, com a população do MENA passando de 500 milhões para 724 milhões de habitantes. Esta onda causará um tensionamento no planejamento urbano, na seguridade social e nos serviços de saúde.
Ao mesmo tempo, a atuação política radical do Islã tem causado uma enorme onda de migração na região para outras partes do mundo. Os refugiados estão invadindo a Europa onde, em meados de 2023, chegavam ao número de 2,5 milhões na Alemanha, de acordo com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
No entanto, o MENA sentiu o impacto ao se tornar também um reduto de refugiados. O Egito viu sua população inchar para 100 milhões de habitantes, incluindo 11 a 13 milhões de refugiados, enquanto o Líbano mantem a maior taxa per capita de refugiados no mundo, devido ao influxo da Síria. Esse desenvolvimento inédito sobrecarrega os limitados recursos locais, mas também provê uma oportunidade para crescimento econômico à medida que injeta novos recursos no país e aumenta sua força de trabalho.
Essas mudanças demográficas contribuiram para o declínio do número de cristãos na região, mas também para seu maior número no Golfo em razão do aumento da comunidade estrangeira como força de trabalho. Com comunidades de migrantes em todos os lugares, o ministério para o MENA agora toma proporções em escala global.
Pobreza, liberdade e perseguição religiosa
Com todas as mudanças políticas e sociais na região, a situação econômica mudou drasticamente, de maneira que a classe média em muitos países tornou-se quase extinta3. Devido à corrupção, os ricos estão ficando mais ricos, enquanto a pobreza aumenta e o PIB nacional e o poder de compra individual4 reduzem dramaticamente.
Apesar dos regimes do MENA estarem sobrevivendo, de maneira geral, ao tumulto, à medida que os desafios se avolumam outros atores não ligados a Estados estão ocupando os vazios de governança, desestabilizando ainda mais as nações.5 Mas apesar destes desafios, muitas comunidades cristãs na região do MENA continuam a demonstrar resiliência e perseverança, mantendo sua fé e sua herança em face da adversidade. Há organizações internacionais e grupos de advocacy que apoiam estas comunidades, promovem a liberdade religiosa e abordam as causas da perseguição e da discriminação.
Cuidado com a criação e saúde mental
O aumento das temperaturas globais6 gera competição pelos limitados recursos. Existe uma projeção de aumentos de temperatura entre 0,8° e 3,3°C e de diminuição da precipitação no norte do MENA7 que acentuarão a escassez de água e causarão frequentes ondas de calor.8 Tanto o aumento nos níveis do mar quanto a maior poluição colocam em risco a sustentabilidade de ambas as heranças naturais e arqueológicas.9
No entanto, tem havido semelhantemente um efeito cascata na saúde emocional nesta região. As taxas de ansiedade, depressão e suicídio (note que a Primavera Árabe teve início com um suicídio na Tunísia10) aumentaram dramaticamente. As populações vulneráveis, que já sofrem com a instabilidade econômica e política, mal podem lidar com esta tendência que ameaça diretamente seus mecanismos essenciais de enfrentamento.
Discipulado numa era digital
A diversidade de condições econômicas da região do MENA ficou evidente no quesito acesso a novas fontes de mídia. Algumas nações (como o Iêmen) tem pouca ou quase nenhuma conexão à internet11 e, desta maneira, tem de contar com mídias tradicionais como televisão e rádio. Outros países vivem em mundos paralelos, como por exemplo os Emirados Árabes, que se gabam de deter o maior número de contas de redes sociais por pessoa,12 e que em 202113 14 orgulhavam-se de ter as maiores velocidades de internet no mundo. A igreja deve estar atenta a ambas as realidades e ter estratégias eficazes para comunicar a mensagem do evangelho em ambientes de muita e de pouca tecnologia.
Considerações Regionais para a Grande Comissão
Guerra e conflito político
A região do MENA tem sido destruída pela guerra. Começando pela invasão do Iraque na virada do século XXI, passando pela ponta de esperança que a chamada Primavera Árabe trouxe, nenhuma só área foi poupada de conflitos internos ou externos. Revoluções, guerras civis, guerras “por procuração” e golpes de estado destruíram a estabilidade de nações como a Tunísia em 2010 e continuou a assolar Egito, Líbia, Iêmen, Síria, Iraque, Sudão, Líbano e Somália nos anos seguintes. Tal situação preocupa a comunidade internacional e seus efeitos são sentidos em todo o globo.
Rivalidades externas e regionais
Muitos destes conflitos foram influenciados por poderes estrangeiros que ainda interferem na região do MENA. A tradicional hegemonia estadunidense está diminuindo, ainda que os EUA influenciem ou pareçam exercer influência à medida que se voltam para a Ásia;15 o mundo caminha para uma multipolarização com outros poderes surgindo, como a China e a Índia.16 Além disso, um relativo equilíbrio de poderes entre poderes regionais – tais como Arábia Saudita, Turquia, Irã e Israel – sugere que o futuro deve ser de competição mais do que de dominação.17
A questão palestina
No entanto, apesar das novas relações diplomáticas e alianças como aquelas dos Acordos Abraâmicos, conflitos violentos em áreas como Sheikh Jarrah e Gaza mostram que a questão palestina permanece ainda relevante.18 Enquanto a guerra de Israel contra o Hamas revoltou os povos árabes por causa da morte de dezenas de milhares de civis inocentes, nos bastidores a cooperação com o Estado judeu na economia e na segurança representa muitas nações que se preocupam com o poder local exercido pelo Irã. No momento que este artigo é escrito não se sabe exatamente como esta questão será resolvida.
Dinâmica econômica
Como a paisagem econômica global tem se movido em direção a um mundo multipolarizado, as economias do E7 (China, Índia, Rússia, Indonésia, Brasil, Turquia e México) devem ocupar o espaço do G7 (EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá). Os países do MENA devem diversificar saindo da dependência tradicional do petróleo para abraçar energias renováveis, tecnologias e infraestruturas, capitalizando com novas oportunidades econômicas. E embora o petróleo permaneça como a fonte primária de energia, a mudança global em direção às renováveis pode causar uma desestabilização dos Estados mais rentáveis da região. Estas nações poderão encarar uma crescente instabilidade social caso se mostrem incapazes de adaptar seus contratos sociais às novidades no ambiente econômico.
Oportunidades e Desafios da Grande Comissão
A útima década foi a melhor época e também a pior época para a região do MENA. Instabilidades sacudiram os pilares da sociedade, mas também a base religiosa de muitos indivíduos. As pessoas afirmam abertamente seu ateísmo, enquanto outros estão considerando as verdades cristãs como nunca antes.
De acordo com o Joshua Project19, os Grupos de pessoas não-engajadas e não alcançadas, (UUPG, na sigla em inglês) entre os 19 países da região representam 68,2% da população. Para alcançá-los a igreja deverá lidar com diferentes realidades desafiadoras.
O crescimento das populações urbanas oferece às igrejas a oportunidade de servir congregações maiores, ao mesmo tempo que provê às minoritárias o anonimato para praticarem sua fé. Entretanto, a urbanização também está transformando as estruturas da família e os papéis de gênero tradicionais, o que, por sua vez, afeta a frequência na igreja e a participação da liderança. Para se manter relevantes, as igrejas precisam adaptar seus programas para acomodar as flutuantes demografias, incluindo famílias de pais solteiros, mulheres que trabalham fora e a juventude que tem adiado cada dia mais o casamento e a criação de filhos. Além do mais, as igrejas devem tratar de maneira eficaz as mudanças nas crenças e práticas congregacionais para que permaneçam relevantes numa sociedade constantemente secularizada.
Contextualizando a igreja para o mundo emergente
Algumas das mudanças estão sendo lideradas por jovens com seus ideiais e sua energia, o que pode rejuvenecer as comunidades locais e aumentar o alcance das iniciativas de justiça social. O crescente ativismo político entre os jovens oferece às igrejas a chance de revitalizar suas comunidades. No entanto, a tradicional dominância de homens mais velhos na liderança da igreja coloca-se como importante barreira para jovens e mulheres, potencialmente levando a uma falta de liderança qualificada à medida que a nova geração assume seu lugar. É fundamental promover a mobilidade intergeracional na liderança e envolver de forma ativa as mulheres em todas as áreas da igreja. As igrejas precisam abrir espaço para que os jovens expressem sua fé de maneiras que eles entendam ser autênticas para a identidade da sua geração, especialmente dentro das congregações mais tradicionais. Essa iniciativa é crucial não apenas para tratar de divisões geracionais mas também para garantir a adaptabilidade e a responsividade da igreja frente a desafios contemporâneos. Isto inclui, entre outros, teologia contextualizada sobre desigualdades econômicas, migração e instabilidade política.
Um dos temas que ressoa entre muitos, em especial entre os jovens, é o da mudança climática. Como mordomos da criação, as igrejas tem uma oportunidade singular de integrar o cuidado ambiental aos seus ensinamentos. A desencadeamento dos climas mais drásticos e o estabelecimento de favelas urbanas a partir de populações deslocadas demandarão das igrejas não apenas o pregar sobre o cuidado da criação mas também participar ativamente dos esforços de enfrentamento da comunidade. O que pode significar criar um sistema de apoio aos que migraram por razões ambientais e engajar a juventude em diálogos ativos sobre as perspectivas teológicas nas relações humanas com a natureza, de forma que se garanta que a conscientização ambiental esteja profundamente imbricada nas atividades da igreja.
Infelizmente, os problemas econômicos causados parcialmente por mudanças climáticas, mas relacionados ao mal-estar político como um todo, poderão agravar as questões de saúde mental entre os congregantes. As igrejas devem integrar recursos para saúde mental, treinar a liderança para atendimento psicológico básico e formar parcerias com organizações de saúde mental. Enquanto a diversificação econômica trará novas oportunidades de emprego, que as igrejas podem apoiar com programas de desenvovlimento profissional, estas transformações podem não beneficiar a todos igualmente. Como resultado, haverá aumento das desigualdades dentro da comunidade e maior demanda por serviços sociais providos pela igreja. As igrejas precisam diversificar suas fontes de recursos para que consigam tratar do potencial aumento nos níveis de pobreza que afetam as receitas da igreja.
Orientando a igreja para o serviço regional
Mas em regiões onde as estruturas do Estado estão enfraquecidas, as igrejas podem se ver inadvertidamente assumindo papéis que são tipicamente de responsabiildade do governo, por exemplo, a mediação de litígios e a prestação de serviços à comunidade. Estes papéis, contanto essenciais, devem ser vigilantemente balanceados contra os atores que não são o Estado que podem impor restrições às práticas religiosas. As igrejas podem servir como centros comunitários estáveis, que oferecem refúgio e apoio durante tempos de turbulência, mas também devem defender e lutar por liberdade de religião e de crença num ambiente político sempre variável. Além disso, a instabilidade geopolítica na região pode exacerbar as divisões sectárias, intensificando tensões dentro e entre comunidades. Como resposta, as igrejas devem engajar-se ativamente em programas de reconciliação. Estes programas são vitais para tratar as questões subjacentes que alimentam os conflitos sectários e para promover a paz e o entendimento.
A igreja no MENA tem um papel fundamental aqui, bem como em sua parceria com o corpo de Cristo no mundo. Ao tratar as complexidades da atual crise palestina, os crentes locais devem forjar um modelo de reavaliação das intepretações teológicas que historicamente apoiaram o sionismo cristão, já que muito frequentemente ele se alinha com políticas que ignoram os direitos e o sofrimento dos cristãos palestinos e muçulmanos. Ao promover a teologia da paz e da justiça, as igrejas podem defender a dignidade e os direitos de todas as pessoas na região, incentivando uma posição mais equilibrada e mais compassiva, que apoia a reconciliação e a coexistência.
Na região, os evangélicos enfrentam uma difícil tarefa de buscar tal cooperação com as igrejas históricas, acusadas de um sentimento pro-Israel já que seus vínculos com as igrejas estadunidenses geralmente resultam em envolvimento na política daquele país. No entanto, de maneira geral, como a presença cristã na região tem minguado, o status minoritário e as ameaças comuns tem empurrado várias denominações na mesma direção, de se juntarem e orarem como nunca antes. No Egito, por exemplo, o Conselho Egípcio das Igrejas representa uma iniciativa animadora que une a milenar Igreja Ortodoxa Copta, as igrejas Católicas Coptas, as igrejas Católicas Gregas, a Igreja Ortodoxa Grega, e as igrejas Anglicanas e Protestantes. Anteriormente presente apenas entre alguns oficiais, estas igrejas agora formam comitês comuns debaixo de um sentimento ecumênico – sem agenda teológica – o que aumenta a aderência popular.
Demonstrando que a igreja é um lar para todos
Considera-se ainda verdadeiro que evangélicos são os “novatos”, que continuam a incomodar muitos cristãos históricos. No Egito, a comunidade protestante deve contar com mais de um milhão de pessoas, enquanto no Iraque eles são apenas algumas centenas. Seus números estão aumentando, porém, por causa de sua natureza evangelística progressiva, que cresce basicamente a partir das comunidades cristãs tradicionais. Os crentes terão de encontrar o equilíbrio entre o fortalecimento das relações com todos que adotam o Credo Apostólico e a contínua necessidade de pregar o evangelho com dinamismo.
E com a crescente urbanização e uma população mais jovem e mais antenada na tecnologia,20 o dinamismo pode acontecer pela forma com que a tecnologia vai mudar como a religião opera. As igrejas devem se engajar com as plataformas digitais e abraçar a revolução digital de maneira a se manterem relevantes e servirem eficazmente suas congregações no meio da confusão econômica causada pelas intercorrências tecnológicas.
A nova empreitada da igreja digital já demonstra frutos, servindo em todas as cinco funções eclesiais do louvor, da comunhão, do evangelismo, do discipulado e do testemunho. Também já foi criada na grande região do MENA uma rede que tem experimentado um grande reavivamento digital que, por sua vez, tem permitido encontros, troca de aprendizagens, serviço mútuo e parcerias para a expansão do evangelho no mundo digital. E para além deste exemplo, muitas igrejas agora possuem espaços virtuais e plataformas online, que estende ainda mais a presença da igreja na sociedade.
Isto é especialmente verdade em países altamente perseguidos como a Algéria, onde 48 igrejas foram fechadas por oficiais do estado e as pessoas foram forçadas a desfazer sua organização formal21. Seja para crentes deslocados ou os vulneráveis Crentes de Origem Muçulmana (MBBs, na sigla em inglês), ministérios digitais fornecem às pessoas uma forma de compartilhar livremente sem ter de revelar suas identidades.
Há um pequeno movimento acontencendo entre os crentes da maioria muçulmana nos países como Tunísia, Marrocos, Jordânia, Palestina e Israel.
O surgimento do movimento MBB apoia-se em vários fatores. Primeiro, os avanços nas tecnologias da informação e da comunicação aumentaram a exposição de indivíduos a diversos pontos de vista religiosos, permitindo que eles explorem crenças alternativas. Além disso, mudanças nas dinâmicas sociais e políticas, tais como o descontentamento com o autoritarismo e a insatisfação com normas societais, tem sido gatilho para a reavaliação das afiliações religiosas e para a busca de realização espiritual em outras fontes.
Um fator de peso tem sido o surgimento do Islã radical. Enquanto algumas pessoas se voltaram ao ateísmo ou a um compromisso secularizado com a sociedade, muitas se jogaram em várias direções, buscando esperança em qualquer lugar, sem saber que sua verdadeira esperança está em Cristo. As igrejas e seus ministérios de misericórdia fizeram um trabalho maravilhoso quando o ISIS dominou o Levante e deslocou diversas pessoas. Ao servir os refugiados e as pessoas vulneráveis de todas as religiões, os crentes atraíram milhares delas à igreja para o tratamento de traumas e terapia, e, no decorrer, foram comunicando que Cristo é a cura, é a única esperança. E, apesar do sofrimento, com seus fundamentos abalados e tabus questionados, muitos cristãos se permitiram ser mais ousados e ter a liberdade de compartilhar o evangelho de Jesus Cristo.
Mesmo na Arábia Saudita a atmosfera espiritual está mudando. Embora ainda não exista igreja física presente, o país está se abrindo para a presença de seus expatriados cristãos, passando a facilitar a discreta comunhão de crentes.
Entretanto, é primordial reconhecer os desafios que os MBBs enfrentam na região do MENA. Eles frequentemente encontram considerável estigmatização social, rejeição familiar e perseguição das autoridades ou facções extremistas. Adotar publicamente o cristianismo exige imensa coragem e resiliência no meio de tanta adversidade.
No entanto, o crescimento do movimento MBB ressalta a natureza dinâmica da fé local. Ele interrompe noções consolidadas de uniformidade religiosa e demonstra a diversidade de jornadas espirituais entre as sociedades de maioria muçulmana. Precisamos orar para que o Senhor continue a levantar mais seguidores seus no meio destes grupos para que, apesar das inúmeras ameaças à existência dos cristãos na região, nós ainda possamos ter esperança de que Jesus trará reavivamento. Do meio do povo majoritário, uma nova igreja se levantará das cinzas das estruturas tradicionais para que a glória seja dada a Deus para sempre.
Conclusão
À medida que a região do MENA se aproxima do ano 2050, ela se coloca à beira das mudanças transformadoras que redesenharão o tecido político, ambiental e societal daquela área. As igrejas da região são como um bastião crucial para a estabilidade, comunhão e fé no meio das mudanças.
Para navegar estas turbulentas águas com sucesso, é imperativo que as igrejas não apenas se adaptem, mas liderem pelo exemplo no estímulo à inclusividade, alavancando tecnologia de engajamento e defendendo a justiça e o ideal de mordomia. Elas deverão proativamente treinar e capacitar a nova geração de líderes que será tão diversa quanto as comunidades que a que servem. Ao imprimir reconciliação e teologia pública às suas missões centrais, as igrejas podem fazer pontes sobre as divisões e contruir paz num mundo crescentemente fragmentado.
O chamado para ação é claro: as igrejas devem adotar seu papel fundamental no redesenho do futuro da região do MENA, garantindo que elas permaneçam vibrantes e relevantes no serviço às suas congregações e comunidades em face às iminentes mudanças globais.
Endnotes
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- US Embassy, ‘2022 Report on International Religious Freedom: Egypt’, US Embassy in Egypt, accessed 15 May 2024, https://eg.usembassy.gov/2022-report-on-international-religious-freedom-egypt/.
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- World Bank, ‘Making Data Count: How to Devise Better Policies to Fight Poverty in MENA’, World Bank Blogs, accessed 15 May 2024, https://blogs.worldbank.org/en/arabvoices/making-data-count-devise-better-policies-fight-poverty-mena.
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- ‘European Policy Brief’.
- Ajjur, Salah Basem, and Sami G. Al-Ghamdi, ‘Evapotranspiration and Water Availability Response to Climate Change in the Middle East and North Africa – Climatic Change’, Varela, R., et al. ‘Persistent Heat Waves Projected for Middle East and North Africa by the End of the 21st Century.’
- Piesse, Mervyn, ‘Global Water Supply and Demand Trends Point Towards Rising Water Insecurity’, Varela, R., et al.
- Westley, Kieran, et al. ‘Climate Change and Coastal Archaeology in the Middle East and North Africa: Assessing Past Impacts and Future Threats’.
- Elie Abouaoun, ‘Tunisia Timeline: Since the Jasmine Revolution,’ United States Institute of Peace, 12 July 2019, https://www.usip.org/tunisia-timeline-jasmine-revolution.
- NordVPN, ‘Countries with the Best and Worst Internet in the World’, NordVPN Blog, Last modified 10 March 2024, https://nordvpn.com/blog/countries-with-the-best-and-worst-internet/.
- GMI Blogger, ‘UAE Social Media Statistics 2018 Infographics | GMI Blog’, Official GMI Blog, 8 March 2023, https://www.globalmediainsight.com/blog/uae-social-media-statistics/.
- World Population Review, ‘Internet Speeds by Country 2020’, worldpopulationreview.com, 2022, https://worldpopulationreview.com/country-rankings/internet-speeds-by-country.
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- Davidson, Janine, ‘The US ‘Pivot to Asia’’, American Journal of Chinese Studies 21 (June 2014): 77–82.
- Ignatieff, Michael, and Paul Friesen, ‘The Threat to American Hegemony Is Real: By Michael Ignatieff’, ‘The Middle East in 2050.’
- ‘The Middle East in 2050’.
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- World Bank Group, ‘The Middle East and North Africa: From Transition to Transformation.’
- Open Doors Canada, ‘Algeria Church Closures’, Open Doors Canada, accessed 15 May 2024, https://www.opendoorscanada.org/algeria-church-closures/.